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SESSÃO SOLENE

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O SR. PRESIDENTE (Chicão Bulhões) – Bom dia a todos. Sob a proteção de Deus, daremos início ao Seminário “MERCADO E SUSTENTABILIDADE: O PAPEL DOS BANCOS”, uma iniciativa do FÓRUM PERMANENTE DE DESENVOLVIMENTO ESTRATRATÉGICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO JORNALISTA ROBERTO MARINHO EM PARCERIA COM O RIO+B.

Para compor a Mesa, convido o Sr. Joan Melé, Presidente da Fundação Dinheiro e Consciência; o Sr. Pedro Telles, Gestor da Comunidade B Rio e Co-Líder do Rio + B; o Sr. Leonardo Letelier, Fundador e CEO da Sitawi; o Sr. Tomás de Lara, Diretor Cidades + B; e Abdul Nasser, do Sistema OCB – Sescoop.

(Lendo)

Paulo Freire uma vez escreveu que é preciso diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, até que em determinado momento a nossa fala seja efetivamente a nossa prática.

Esse exercício aplicado à Educação faz milhares, porque proporciona o verdadeiro aprendizado. Afinal, nos fixamos em exemplos e eles nos influenciam muito mais do que palavras lidas em um livro, ou repetidas à exaustão.

Quando falamos de sustentabilidade, o mesmo princípio se aplica: fácil falar, difícil fazer. E se pararmos para pensar e partirmos para a prática, para construir o mundo que sonhamos, não seria isso possível?

Nosso evento hoje é um convite à reflexão. Vamos poder ouvir aqui, nas próximas duas horas, o que já se pratica no mundo, e buscar entender para que lado vamos virar para caminharmos nessa direção.

Essa é uma mudança coletiva? Ou de vários indivíduos que escolhem caminhar numa mesma direção? Será que esses indivíduos já não estão aí? Não só exercitando o que desejamos, mas também construindo os alicerces para a mudança de que precisamos? Vamos poder tirar hoje as nossas próprias conclusões. Basta abrir os ouvidos e os olhos para esse futuro que brilha bem à nossa frente.

Agradeço a oportunidade dada pela Comunidade B e o Movimento Rio + B de abrirmos as portas do Parlamento a Joan Melé e de podermos refletir juntos.

Recentemente, os Deputados desta Casa aprovaram por unanimidade a criação da Política Estadual dos Investimentos e Negócios de Impacto. Nos debates que antecederam o desenho do projeto, o Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio de Janeiro identificou um número enorme de negócios surgidos dentro de comunidades ou desenhados nas universidades por jovens e não tão jovens de idade que, insatisfeitos com o que assistiam, resolveram começar a fazer alguma coisa e a construir também o seu negócio a partir dessa semente de mudança, causando impacto e mudando realidades.

Quando nós aprovamos esse projeto, buscamos colocar as finanças e a burocracia a favor da sustentabilidade e de negócios mais sustentáveis. Bancos éticos podem ajudar a impulsionar isso e por isso é necessário conhecê-los. É nesse ambiente que o Parlamento Estadual recebe o senhor. Desejamos que esse seja um encontro muito produtivo e que inspire novas e necessárias ações. Sejam todos muito bem-vindos!

Vou passar a palavra para o gestor da Comunidade B e colíder do Rio + B, Pedro Telles, para falar sobre a importância de debatermos a sustentabilidade nas relações financeiras. O senhor dispõe de dez minutos.

O SR. PEDRO TELLES – Olá, bom dia!

Meu nome é Pedro. Como ele me apresentou, sou gestor da Comunidade B Rio e sou colíder do Rio + B.

O Rio + B é um programa que está dentro do chapéu do Cidades + B, que é um braço do Sistema B. No Sistema B a gente trabalha o ecossistema de negócios de impacto. Então, como o Deputado falou, a gente estava trabalhando junto com o Fórum da Geiza na construção da estratégia estadual de negócios de impacto há pouco tempo e estamos de volta aqui, na Alerj.

Vou falar um pouquinho sobre o programa e o que é o Rio + B, de fato. A gente tem um cenário em que os ODS, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, foram definidos como a principal estratégia global de construção de sustentabilidade, de avanços de governos, empresas e cidadãos para guiar uma nova estratégia que monta isso. Mesmo assim, a gente tem números impressionantes. Por exemplo, quatro trilhões de dólares são necessários para cumprir essa estratégia, e sozinho nenhum governo consegue cumprir isso. A gente tem dados de que 90% de população ainda não sabe, de fato, explicar o que são ODS e detalhar isso tudo. Há pesquisa de que as pessoas que realmente conhecem, que sabem falar vão chegando a 1% à medida que a estratégia vai evoluindo.

Ao mesmo tempo em que esses números dos cidadãos são um pouco preocupantes e ainda precisam avançar, existem empresas cada vez mais envolvidas, porque faz parte da estratégia, elas estão sendo obrigadas a falar sobre isso, elas estão sendo obrigadas a tratar desses pontos se quiserem vender. Então, 60% das empresas já estão integrando ODS no seu plano de trabalho, número que vem aumentando.

Quando se fala de governo, 91% das estratégias nacionais já têm ODS, já estão citando ODS, já estão citando Agenda 2030. Então, a gente tem números que mostram que, cada vez mais, as pessoas estão falando sobre ODS, o governo vem falando sobre ODS. Mas, ao mesmo tempo, a gente sente que as pessoas precisam estar mais envolvidas. As pessoas precisam entender o que é isso tudo, de fato.

O Rio + B vem como uma solução para isso. A gente realmente monta o programa para envolver as pessoas, a sociedade civil, as empresas e os governos em torno desse tema, aumentando a conscientização e as ferramentas para que, de fato, as pessoas consigam atuar, as empresas consigam aturar e o governo consiga aturar para melhorar todos os problemas, para resolver os problemas que a gente tem, para serem resolvidos.

O que é o Cidades + B? A gente tem que firmar esse compromisso de fato, de cumprir, de trabalhar baseada, pautada em ODS.

Os nossos objetivos estão pautados em ODSs assim como a gente quer que as pessoas pautem ODSs através disso.

A gente tem uma estratégia que, lógico, passa por captar, por levantar fundos que estão cada vez mais disponíveis para que a gente consiga trabalhar todos os pontos que são tratados como objetivo. A gente junta isso tudo através de propostas de inovação na gestão pública, através de propostas que se relacionem com a Alerj; que se relacionem com a Prefeitura para a gente poder trabalhar em conjunto e cada um facilitar o lado do outro.

A gente está aqui, na verdade, para propor soluções, melhorias, ferramentas e não para dar mais trabalho para quem já está tendo trabalho demais para pensar.

Programa Cidades+ B já tem alguns cases que funcionaram e aconteceram.

O Rio+B começou essa trajetória. Em 2016, a gente já teve um ciclo do programa, mas o que começou aqui na cidade - está ali em 2018 – foi bastante focado em empresas. A gente envolveu 350 empresas em torno das nossas ferramentas de avaliação de impacto. Colocou cada uma delas para medir o impacto que elas têm na sociedade, o que estão causando com atuação delas de hoje em dia.

Esse programa inspirou outros lugares da América Latina a também começar a trabalhar com isso. Cada um desses programas veio com uma inovação a cada edição. Por exemplo: em Mendoza, a gente teve programas focados em academia nas universidades. Um programa de cursos que envolveu nove universidades diferentes mais de quinhentas pessoas participaram dessas palestras gratuitas e direcionadas para essa conscientização: trazer as pessoas para pensar ODS, para pensar o que são as nossas ferramentas também do Sistema B.

Um grande avanço que é tema também que a gente quer trazer para o Rio, trazer para esse ambiente da Alerj, que foi a lei de compras públicas que a gente conseguiu passar em Mendoza. Então, hoje, em Mendoza, os critérios de impacto socioambiental fazem parte da decisão de compra dos governos, tentando incluir as externalidades que são geradas no processo que as empresas causam também no processo de licitação. Hoje, é lei e acaba criando mais mecanismos para que o governo possa trabalhar com isso.

Em Santiago, os números mais expressivos são, de fato, o que a gente conseguiu entregar com a população. Lá, a gente envolveu vários influenciadores digitais, cada um para tratar de um tema. São 17 ODSs. Cada ODS tinha o seu influenciador para explicar e para aproximar cada vez de mais pessoas. A gente precisa dessas personalidades para trazer esse tema, fazer com que saia da bolha que a gente está, hoje, fazendo com que isso chegue, cada vez mais, para pessoas.

Lá, teve uma ação muito legal com o metrô. Por exemplo, eles botaram artes que explicavam os ODSs no cartão de metrô. Deixavam isso claro para qualquer pessoa: você vai no metrô pega o seu cartão. Tem lá um dado. Você acaba recebendo uma informação junto com esse cartão.

Então, a ideia é que a gente consiga replicar essa estratégia e aproveitar o que eles tiveram de inovação para esse segundo ciclo do Rio+B que a gente está preparando e que vai começar, agora, na cidade.

Para vocês terem uma noção, a quantidade de parceiros internacionais, locais, nacionais que foram envolvidos nesse programa a gente tem grandes organizações apoiando tudo isso, participando do processo. A gente está preparando, agora, esse segundo ciclo para fazer com que, de novo, toda essa potência que já se espalhou pela América Latina, volte e a gente consiga fazer com que ela, de novo, resolva e tenha resultados positivos aqui.

O Rio que Faz, na verdade, está baseado em vários objetivos que passam por todos esses pontos que a gente falou, o número de empresas que a gente vai atingir com tudo isso.

Os laboratórios - a gente vai ajudar as empresas a medirem o impacto delas, dando ferramentas para que elas façam isso.

O número de legislações - a gente quer envolver a estratégia de investimentos de negócios de impacto estadual em torno do programa, fazendo com que ela se baseie, que seja muito mais do que uma lei.

O número de pessoas – é muito importante que a gente tenha a população em torno disso. Voltando lá atrás nos dados que a gente tem, a gente precisa que mais pessoas estejam envolvidas, que mais pessoas participem, que mais pessoas saibam o que é isso, deixando de ser um tema que é fechado, que está específico dentro de uma sala para poucas pessoas.

Acadêmicos – Temos, hoje, parcerias com quase todas as universidades do Rio para falar dentro delas, para trazer esse conteúdo, fazer com um conteúdo que antes era para poucas pessoas cada vez chegue a mais lugares.

Mídia - De novo, a visibilidade o poder que a gente tem de com esses mecanismos que se fazem, hoje, por exemplo, estou aqui falando para vocês, mas é importante que esse conteúdo chegue a mais pessoas através das tecnologias, através da transmissão, através da gravação disso tudo.

E aí para explicar o que é programa, de fato, detalhado.

A gente envolve três partes: empresas, governos, sociedade. Dentro disso, tem um “braço” do programa de Rio+B para cada um deles. Programas que os juntam. Programas que são específicos de cada um deles. Tudo para basear a estratégia que a gente tem.

Ali tem uma parte que detalha cada um deles. E aí a gente se coloca totalmente à disposição se vocês quiserem tirar qualquer dúvida, conversar a gente vai estar aqui, depois. A gente vai ter mais falas sobre isso.

O mais importante de tudo é o convite para essa nova rodada. É convite dessa construção, que é uma inovação que a gente traz. Na verdade, agora, é feita não só pelo Sistema B, não só pela Comunidade B Rio, mas envolve várias empresas B certificadas, vários parceiros estratégicos na própria estratégia de gestão.

Então, hoje, a gente tem ali a Iônica, Casa do Futuro, que estão, inclusive, presentes ali junto com a Somar, a Baluarte, a Deca, a Sitawi – que está presente na mesa – tudo isso para basear e deixar em várias mãos, que estão acostumadas a fazer. Cada uma daquelas empresas é especialista em uma coisa que é muito importante para que o programa funcione. Então, ao invés de envolvê-las um pouquinho, a gente está fazendo com que cada um seja dono e que cada um seja parte da gestão que, realmente, entrega esse resultado.

Então, convido todo mundo a procurar mais sobre o Rio+B. Aplicar nos nossos formulários, nas nossas inscrições, porque a gente vai contar cada vez mais sobre esse novo ciclo que se prepara e começa da melhor maneira possível. Estar aqui na Alerj e conseguir trazer o Joan para falar aqui é muito importante para a gente principalmente com esses resultados de envolver o poder público, a sociedade e as empresas.

Obrigado, gente. (Palmas)

O SR. PRESIDENTE (Chicão Bulhões) – Obrigado, Pedro.

Convido, agora, o Presidente da Fundação Dinheiro e Consciência e membro do Conselho Consultivo do Triodos Bank, banco ético da Holanda, Joan Melé, para falar dos Fundamentos Humanos para uma Nova Economia.

O SR. JOAN MELÉ – Bom dia, eu ainda não falo português. Somente falo portunhol. Penso ser melhor para vocês a tradução. Vou falar em espanhol.

A primeira vez que estive no Brasil, faz dois ou três anos, a primeira coisa que disseram os meus amigos foi: “Joan, a gente precisa avisar a você sobre uma coisa: no Brasil, tem muita corrupção.” Eu ri, porque acabava de estar na Argentina e a primeira coisa que me falaram na Argentina foi: “Joan, na Argentina tem muita corrupção.” Mas, eu também havia estado no Chile e tinham me dito: “Joan, no Chile tem muita corrupção.” E a mesma coisa me disseram na Colômbia, na Guatemala, no México. Eu sempre disse: na Espanha também tem muita corrupção. Mas a gente nunca se perguntou: por que há corrupção? Às vezes, as pessoas acusam os políticos falando: “Os políticos são corruptos.” Outras pessoas acusam os banqueiros, os empresários. Tem muitos cidadãos corruptos. Mas qual é o motivo, porque as crianças pequenas – como vocês falam: crianças – não são corruptas. A gente deveria se perguntar como estamos educando as crianças e os jovens para quando adultos sejam corruptos? Como a gente está educando, hoje, o mundo aos jovens para que quando sejam adultos estejam destruindo a terra e a sociedade? Uma sociedade que é cada vez mais violenta, mais agressiva. O que está acontecendo?

Há uma semana estava reunido com algumas pessoas da ONU e a gente falava sobre os objetivos do desenvolvimento sustentável, os 17 pontos. Vocês esqueceram do mais importante: o ponto zero tem que falar do ser humano. Falar do que é o ser humano. Que sentido tem o ser humano? Que sentido tem a vida? O que é a dignidade humana? Por que a gente perdeu a dignidade? A gente converteu a vida numa luta pela sobrevivência. E como se nas escolas se ensina a Teoria da Evolução, de Darwin, e falam para a gente: o homem é um animal, os animais lutam para sobreviver, você tem que se adaptar. A gente pede para as crianças, para os jovens que ataquem a sociedade. Não posso entender isso, porque essa sociedade está doente. A gente pede que eles se adaptem a uma sociedade doente. Eles acabam se adaptando e acabarão doentes como a gente: destruindo o planeta, destruindo tudo. A gente não para para pensar o que tem que mudar? Como mudar o planeta? Em que momento a gente se perdeu? Não é um tema de economia. Não é um político. É um tema espiritual. A gente perdeu a dignidade humana.

Tem pesquisadores que seguem dizendo que o homem é um animal. Eu discuti de forma muito apaixonada – eu sou uma pessoa muito apaixonada sobretudo com esses temas -, na Espanha, em Barcelona – onde moro – com um pesquisador que me dizia que os seres humanos e os chimpanzés somos quase iguais, só mudam cinco genes. Eu disse: “Quando eu te vejo, sou tentado a pensar que somos, realmente, iguais”. O que tem a ver um ser humano com o animal? Ele me disse: “A vida é uma luta pela sobrevivência. Tem que sobreviver”. E de tanto falar de sobrevivência, a gente esqueceu o que significa viver como seres humanos. Eu me dizia: a vida é fruto. Ele me dizia que a vida é resultado do acaso, nada tem sentido. Nós somos um conjunto de células que se reuniram por acaso e quando você morre, elas se decompõem e não tem nada mais. Se somos matéria simplesmente, quando você morre e se decompõe e não é nada mais, por que não posso matar, então? Por que não posso roubar? Então, por que não posso destruir a Terra, se tem milhares de galáxias? Falar assim é absurdo, mas o que a gente está fazendo? Isso não é novo. Um autor que admiro muito, russo, Dostoiévski, em uma obra literária maravilhosa, os Irmãos Karamazov, num diálogo entre dois irmãos, eles diziam: “Se Deus não existe, tudo é possível. Você pode fazer o que você quiser”. É o que a gente está fazendo. Eu perguntava para esse cientista se a vida é só uma luta pela sobrevivência, por que a gente faz poesia? Por que ao final da cadeia evolutiva, os seres humanos, a gente faz poesia, faz literatura, faz música, faz pintura? Faz poucos anos, prédios tão bonitos quanto esse, hoje, a gente não é mais capaz de fazer isso. Hoje, a gente faz prédios quadrados e feios. A gente perdeu, inclusive, a estética. Tudo está em função do dinheiro, fazer uma coisa funcional que custe o mínimo possível. Já não nos interessa a beleza. Mas o ser humano precisa evitar fazer coisas como em toda a história ele fez catedrais e prédios como este, poesia, literatura, música, escultura. Isso é maravilhoso o que a gente já fez. Mas por que na vida social e econômica a gente se comporta pior do que os animais lutando uns com os outros, pior do que os animais, porque eles não destroem a natureza. Nenhum animal deixa resíduo que não se pode reciclar, só nós destruímos. Ninguém para e diz: “Para, basta. Vamos repensar o que a gente tem que fazer”. Os objetivos, os ODSs não vão servir, não são suficientes têm que falar do sentido da vida e da vergonha. Tenho até vergonha de falar disso.

Pratico a espiritualidade não só em casa, mas em público com empresários, com políticos, porque o ser humano vive entre dois grandes mistérios: o mistério do nascimento, o mistério da morte e todas as pessoas tem duas grandes perguntas: depois da morte o que vai acontecer? Sei que depois da morte vou perder o meu corpo. Eu não me preocupo com isso, mas eu vou seguir existindo. Vou seguir tendo consciência de mim mesmo. Vou encontrar as pessoas que já morreram e que eu gostava. Essa é uma pergunta importante. Outra pergunta é mais importante: existe algo antes do nascimento?

Existe um plano para a nossa vida. O que viemos fazer aqui, ou não? Não viemos fazer nada. Quando o ser humano responde a essas duas perguntas, a vida é vista de ambas as formas. Hoje, não perguntamos mais nada, só tentamos sobreviver e o pior é que às crianças, aos jovens dizemos: “Você tem que estudar porque no dia de amanhã você tem que encontrar um trabalho para ganhar dinheiro.” Estudar para encontrar um trabalho para ganhar dinheiro. Não é verdade. Meus pais me diziam: “Você tem que estudar para que amanhã você seja uma pessoa útil à sociedade, uma pessoa que possa ser aproveitada.” Porque, senão, crianças crescem pensando, eu, eu, eu e só pensam em si mesmas e têm medo. Se tenho trabalho, tenho dinheiro, se tenho dinheiro vou poder casar e ter filhos, que vão poder ter estudo para ter um trabalho, uff! Perguntem porque hoje, no mundo, nos países ricos, a primeira causa de morte é o suicídio e não se fala disso – a primeira causa de morte. Moro em Barcelona, uma cidade incrível, lá a vida é muito boa, mas a primeira causa de morte de pessoas entre 15 e 50 anos é o suicídio. Por quê? Por que na Suécia, na Noruega, no Japão, na Korea, acontecem de 60 a 70 suicídios por dia e de pessoas ricas, que têm tudo material, mas estão desesperadas porque seu ser, seu eu, não tem sentido, estão por aí perdidos. Então, é fundamental pensar no sentido da vida e o que é esse ser humano que, durante um tempo aparece aqui num corpo. Mas, eu não sou meu corpo. Estou falando com vocês através do meu corpo. O que todas as religiões do passado dizem? Não só as religiões, mas as cosmovisões do mundo indígena, da América do Norte, da América do Sul, que estão descobrindo agora, desde os hopis, dos navarros, dos lakotas até os guaranis, o mafutes, os maias, todos dizem a mesma coisa, que o ser humano foi criado por Deus à sua imagem e semelhança. É difícil de crer, que vendo os seres humanos, pensar que somos iguais e semelhantes a Deus, porque Deus não pode ser como nós. Sim, é mais complicado porque o que significa a palavra Deus? É um ser capaz de criar? Nós também somos capazes de criar os seres humanos, nós criamos edifícios como este, as catedrais, criamos sinfonias musicais. Somos seres criadores, todavia, não temos sido capazes de criar o mais importante, que é uma nova arte, que é a arte social, a arte de aprender a viver e transformar a terra, nos relacionarmos uns com os outros e com a terra em harmonia, porque arte é harmonia, é beleza, é equilíbrio, é proporção. Não vivemos hoje em harmonia, em equilíbrio, em proporção. Precisamos desenvolver essa nova arte. Somos seres criadores e não estou me referindo à tecnologia, não me interessa a tecnologia, não é muito importante.

Em segundo lugar, precisamos perguntar: se Deus nos criou, por que o fez? É uma pergunta equivocada, porque significa que há uma obrigação, uma necessidade. Se deixo cair uma pedra, ela cai. Por quê? Por que há uma lei de gravidade que obriga? Acho que quando Ele cria algo, não existe o porquê. É por amor. Quando escrevo uma poesia, ou uma música, ou construo uma escultura, é por amor, algo que eu já tinha dentro de mim e que quero compartilhar com vocês. Esse amor não é necessidade, é por liberdade, liberdade, amor, criatividade, que são as três capacidades do ser humano. Essa é a dignidade humana. Deus nos criou com essas três habilidades. Quando digo capacidade, não digo habilidade, digo capacidade. Para mim, a vida é a oportunidade de compartilhar isso como uma verdadeira habilidade. Por isso, a vida é uma grande oportunidade de fazer coisas maravilhosas. Estamos desconectados com a origem, esquecemos que somos seres espirituais, ainda que muitas pessoas tenham religião, mas não parece.

Eu fui educado na religião católica-cristã e estou muito agradecido aos meus pais, porque eles me ensinaram que o fundamento da vida é o amor e servir aos outros. Isso me acompanhou por toda a vida. Eu queria entender por que Deus nos criou? E eles diziam: não tem que perguntar tanto, se comporta bem, você tem que ser um bom menino. E eu era um bom menino, e hoje eu sou também um bom menino.

Queria entender, por que eu não entendia, por que um menino nasce numa favela e depois vão matá-lo quando ele estiver com sete anos, e outro nasce em um condomínio multimilionário? Um nasce com saúde e o outro com enfermidade? Eu não entendia. Me diziam: “Deus sabe o que está fazendo”. É claro que ele sabe. Mas eu queria entender. Isso não se diz. A vida é um mistério, e eu queria investigar. A experiência na minha vida é realmente essa. Eu dediquei 42 anos da minha vida à busca espiritual, o sentido espiritual. Deus não se encontra fora da gente, se encontra dentro de nós, é uma experiência interior. E se encontra a cada vez que encontramos um ser humano. Se está aberto, se quer descobrir quem é este ser humano. E podemos construir uma sociedade humana, e não uma sociedade animalizada como esta, humana com a essência de cada ser humano. O que falamos em particular, que não é só religião não, porque eu tenho muitos amigos católicos, na Espanha, mas eles têm medo de morrer. Eu pergunto, por que tem medo de morrer, se vai se encontrar com Deus? Não tenho pressa. Não tenho pressa de morrer. Eu tenho medo. E muitas pessoas têm obedecido. Revise a Bíblia que estão lendo, porque penso que faltam algumas páginas. Porque há algo que não estão entendendo bem. Como pode ser cristão, budista ou o que seja, e não se preocupar com o sofrimento de outras pessoas? Como podem viver num condomínio milionário, como tenho visto em São Paulo, ao lado de favelas onde vivem em condições miseráveis, e podem dormir tranquilamente? Como é possível? E meus amigos me disseram: “Joan, a gente está acostumado a isso”. Não podemos nos acostumar com o sofrimento dos outros. Isso deve machucar o nosso coração e a gente tem que dizer, a gente tem que mudar, não sei quanto tempo vai levar, mas a gente pode mudar isso. Não basta dizer o mundo é assim, como mudar as quatros coisas os ODS não vão servir se não for um propósito de vida, eu tenho que comprometer a minha vida para mudar o mundo. Eu. Os demais não sei. Mas eu vou.

Vai parecer que temos um banqueiro que iria falar de dinheiro, depois, não podemos falar de dinheiro e de economia se não falamos primeiro de ser humano, e não sabemos quem é um ser humano. O ser humano, para mim, é isto, a imagem e semelhança de Deus. Porque a gente tem essa estreita capacidade. A gente pode ser livre. Mas livre não é uma coisa que eu quero. Livre é a busca da verdade, e a verdade me faz livre. Livre dos medos, de aversões, de ambições, de cobiças, de vícios, de instintos. Uma pessoa que trabalha a cada dia para melhorar como pessoa, autoconhecimento, crescimento pessoal.

Estava há dois anos, em Barcelona, dando um curso a uns professores de uma escola de negócios muito importante, onde se prepara os futuros executivos, e fui muito duro com eles, muito duro. E ao final, um professor me perguntou: “Joan, você foi muito duro conosco, você tocou meu coração, diga-me o que podemos fazer, nós os professores, para ajudar a melhorar o mundo?” Fiquei pensando, por uns segundos, e disse: “Olhe, peço a vocês que a cada dia, levantem-se, pela manhã, uma hora antes”. Isso é o que eu proponho a vocês, também: uma antes, e dediquem uma hora de silêncio, meditação e trabalho espiritual. O professor olhou para mim e disse, eu queria algo prático. Ele não me entendeu. Algo prático é levante-se uma hora antes, a cada dia, faça silêncio, meditação e leitura de assunto espiritual. É o mais prático que se pode fazer hoje para mudar o mundo. Isso não está nos ODS. Eu proponho o ponto zero. Reconexão espiritual do ser humano com sua origem, senão não tem saída. Seguiremos vivendo a vida com o objetivo de ter um bom trabalho, ganhar dinheiro para comprar coisas que não precisamos.

E tenho 42 anos de experiência como banqueiro, conheci pessoas pobres, ricas, muito ricas, milionárias. Aos ricos e aos milionários digo: “Olhem os outros”. Pergunto: “Para que você quer mais dinheiro?” A obsessão das pessoas ricas é investir para ganhar mais dinheiro. Isso é uma doença, ter que investir para ganhar mais. Quando pergunto por que querem mais dinheiro, nunca me respondem. Eles dizem: “Ah, Joan, que pergunta mais boba!” Eu insisto: “Por quê?” Eles falam: “Chega de perguntas bobas! Tem que ganhar dinheiro porque tem que ganhar dinheiro.” Eu falo: “Você sabe que você vai morrer.” E eles: “Joan, você é uma pessoa muito desagradável! Não fui eu que fiz isso.” E eu: “É verdade, você vai morrer, só não sabe quando.”

Não sei se vou morrer esta noite ou daqui a dois anos. O importante não é o tempo que vou viver, mas o que quero fazer da minha vida no tempo que me foi concedido. Isso é um presente, a vida é um presente. O que queremos fazer desse tempo que nos foi concedido? Ganhar dinheiro, se não vai levá-lo com você? As pessoas antes diziam: “Quando você morre seus filhos vão gastar todo o seu dinheiro.” Mas eles não estavam muito preocupados. Agora digo que seus filhos vão gastar todo o seu dinheiro. Eles querem dinheiro, dinheiro, comprar coisas, carros, propriedades, barcos. Isso tirou a vida das pessoas! Por que não falamos disto em público como falo hoje? Porque isso é uma coisa privada. Por que isso não é falado nas universidades e nas escolas, nos negócios ou nas reuniões de políticos?

Eu digo algo que pode ser útil aos legisladores: a espiritualidade. Os políticos têm que ter coragem de falar de espiritualidade, de pensar sobre isso, porque a vida é um presente incrível e o ser humano é a maior coisa que existe se vive como ser humano, e não como animal. Então, trata-se de humanizar a vida, espiritualizar a vida. Não falo de uma religião específica, falo de se conectar com o sentido e, portanto, criar uma economia humana.

O que significa uma economia humana? É uma economia em que nós, seres humanos, possamos descobrir o sentido básico da economia. Eu estudei matemática e economia na Universidade de Barcelona, mas nas universidades não se ensina economia, e sim teoria econômica, que é diferente. Ainda não descobri para que serve isso – eu poderia dizer que não serve para nada. Eu já ouvi muito, mas hoje digo que não sei para que servem equação matemática, trigonometria, equações diferenciais.

É muito mais simples: os seres humanos, para viverem na Terra, precisam descobrir o princípio da mútua dependência. Não sei fabricar esta calça, esta camisa, este terno, este sapato. Tudo o que comi no almoço de ontem foi cultivado pelos agricultores, foi feito por cozinheiros e servido pelos garçons. Hoje vou para a China em um avião que não sei pilotar. Tudo o que preciso vai ser produzido por outras pessoas, outros trabalhadores. Nós precisamos um do outro. Por que, se dependemos um do outro, temos que concorrer? De onde vem essa ideia absurda da concorrência? Dependência mútua, apoio mútuo, cooperação, isso é óbvio. Nós necessitamos uns dos outros, vamos nos ajudar mutuamente. Vamos colaborar: se todos os seres humanos trabalharem juntos poderemos transformar a Terra de uma forma lógica e natural e vamos atender às necessidades de todas as pessoas – de forma lógica e natural.

Hoje, no mundo, mais da metade dos alimentos produzidos são jogados no lixo, enquanto três bilhões de pessoas estão com fome, na pobreza. Como podemos dormir? Até quando temos que bater em nós mesmos para acordarmos? Uma criança sueca de 16 anos, Greta Thunberg, teve que ir à ONU para nos deixar vermelhos de vergonha por vermos o que estamos fazendo com a Terra! Os adultos dizem: “Ah, os negócios são mais importantes.” Os negócios são mais importantes que a nossa vida? Quando vamos dizer que chega? Há quem diga que a Terra tem recursos limitados, mas não é verdade. O que se joga fora na Europa e nos Estados Unidos em um ano alimentaria o resto do mundo. Quando eu digo que joga fora, não é o que se sobra nos pratos ou porque passou da validade. É porque faltam três ou quatro dias para que passe da validade. O iogurte no mercado você vê a data de validade e fala: “Ah, vai vencer na sexta-feira”. Esse vence no mês que vem. Então, compra o que vai vencer no próximo mês. Mas o iogurte você vai comer hoje. Mas a gente é assim. O que se joga fora de alimento que ainda nem está vencido, alimentaria o resto do mundo.

Há recursos para satisfazer as necessidades. A loucura humana, não. Nós nos dedicamos a produzir coisas que nós não precisamos. E eu sei porque eu passo muito tempo nos aeroportos. Agora vou para o Galeão. Tem uma parte separada que se chama “O boulevard da estupidez humana”. Tem gente que chama Duty Free. Free Shop. Vocês já viram free shop? Um monte de gente. Com luzes, música, mulheres bem vestidas com palitos de perfume que dizem: “Vocês querem entrar para sentir o cheiro”? Você não tem nem tempo para dizer que não porque eles já botam o negócio no seu nariz. Eu não sei o que acontece, mas eu fico meio tonta. Aí depois vem a parte de bebida alcoólica, uísque, conhaque, vinho, chocolates, cigarros, tudo muito importante. Esse negócio move dezenas de bilhões de dólares. Mas para as coisas importantes, não tem dinheiro.

Isso é um absurdo, é a economia do absurdo. E as pessoas que não têm dinheiro, gastam dinheiro em coisas que elas não precisam. Primeiro, tem que trazer a consciência. A economia tem um princípio de consciência mútua, e nós precisamos colaborar, e para colaborar nós temos de botar a consciência no uso do dinheiro, em como nós usamos o dinheiro.

O dinheiro você pode usar de três formas diferentes apenas: para comprar, para economizar ou investir ou para doar. Agora estou falando portunhol.

Quando uma pessoa quer despertar a consciência, você tem que se fazer três perguntas. Quando você vai comprar, você pergunta: o que eu estou comprando, por que eu estou comprando e onde eu estou comprando?

Por exemplo: a madeira de todos esses móveis, veio de onde? Vocês sabem que a cada ano se destroem 15 milhões de hectares de floresta natural. Vamos destruir mais? Outras pessoas podem plantar. Eu acabei de passar esses dias por São Paulo, Botucatu, Bauru. Eu vi milhares de hectares de eucalipto. Isso não é reflorestar. Porque o natural do Brasil não é eucalipto. Não tem biodiversidade. Mas tem lugares que é pior, que você desfloresta e não planta nada. Eu notei que as pessoas continuam destruindo as florestas brasileiras, porque continuamos comprando a madeira. Como as pessoas compram a madeira, as pessoas continuam desmatando. Se um dia a gente falar basta, com o meu dinheiro não. Eu não vou comprar se você não faz o cultivo de floresta sustentável. Eu não vou comprar. A nossa decisão individual começa aqui.

É a mesma coisa quando compra um alimento. Nós podemos comprar transgênicos. Estão destruindo o Brasil e a Argentina. Destruiu-se a terra com os transgênicos. E se tem alguém aqui que trabalha com transgênico, sinto muito, mas isso é profanar a terra e destruir a terra. Isso é pão para hoje e fome para amanhã, enquanto deveríamos fazer cultivos sustentáveis. Há pessoas que estão fazendo e mostram que os lugares que estavam secos antes, voltam a ter água, ter animais e a recuperar a terra.

A gente precisa fomentar a agricultura orgânica e consumir produtos orgânicos. E não me digam que é mais caro porque não é verdade. As coisas têm um valor. Também é mais caro um Mercedes do que um Fiat porque é. Mas a qualidade é diferente. As coisas têm um valor e você tem que pagar por esse valor.

E também não é falar de preço. Quando a gente diz que uma coisa é barata, estamos mentindo. As coisas têm um valor. Se é barato significa que, por debaixo desse valor, alguém vai pagar muito caro. Muito caro! Tem marcas que eu não quero nomear, algumas são espanholas muito conhecidas. A gente poderia nomear qualquer uma delas ao acaso, mas eu não vou falar nenhuma.

Em Bangladesh, morreram mais de mil mulheres trabalhando em condições subumanas num subterrâneo, para fabricar peças baratas de moda para que as pessoas comprem.

No que me resta de vida, eu nunca mais vou comprar uma peça desta marca. Não com o meu dinheiro! Eu não posso permitir isso. Como é barato se custou milhares de vidas? Vocês não permitiriam que seus filhos ou filhas estivessem trabalhando ali, mas não nos importa comprar esta roupa. Nós vivemos nesta contradição. E nós somos pessoas boas, nós não temos uma essência ruim. Mas nós separamos o dinheiro do espírito.

Temos os nossos ideais, temos os valores humanos, mas dinheiro é dinheiro. Temos criado este absurdo, esta fenda no mundo. A grande ferida do mundo hoje é separar o material do espiritual. Não pode separar. Eu não posso permitir que o meu dinheiro financie coisas que vão contra os meus valores.

Exatamente como acontece quando o governo contrata serviços e vai a um leilão. Não pode ir por concorrência ou no mais barato. Porque o mais barato vai acabar pagando salários miseráveis às pessoas. Você tem que contratar uma empresa responsável, empresas B, e pagar o tem que pagar. E se não tem dinheiro, então não gaste em outras coisas. Porque para as outras coisas há dinheiro.

Isso muda o mundo. E não falar de coisas... Decisões concretas: eu não vou comprar de empresas que não são responsáveis. Eu quero saber quem produziu, em que lugar, em quais condições. Respeita as pessoas ou não? Respeita a terra ou não? Se a resposta é não, eu não vou comprar. Eu não vou comprar. Cada um decide.

Mas como é possível que as pessoas com valores espirituais, quando mexem no dinheiro, é como se cortassem a pessoa ao meio? Têm uma esquizofrenia. Então, quando nós compramos, é a mesma coisa quando nós poupamos, investimos. Algumas pessoas sabem investir diretamente, mas a maioria dá dinheiro aos bancos.

Eu tenho 42 anos de experiência nos bancos. Nunca, jamais, um cliente me perguntou: “Joan, se eu levo o meu dinheiro ao banco, o que você vai fazer com o meu dinheiro?”. “A quem serve o meu dinheiro?” É uma pergunta importante.

Quando vocês buscam uma escola para os filhos, vocês buscam de acordo com os seus valores. Vocês não colocariam os seus filhos numa escola que vocês não saibam como vão educá-los. Mas com o dinheiro, sim. Vocês levam ao banco e o banco faz o que quiser.

Claro, os bancos se transformaram num poder mundial. E as pessoas dizem: “Ah, os bancos têm poder”. Claro, é o nosso poder. Os bancos não têm dinheiro. Não se enganem, os bancos não têm dinheiro. Eles gerenciam o nosso dinheiro. Os clientes têm o direito e a responsabilidade de saber o que o banco faz com o seu dinheiro.

Porque, se não, permitimos que façam qualquer coisa. E vocês são pacifistas e o banco está financiando comércio de armas. Vocês são pessoas preocupadas com a terra e o banco está financiando empresas que destroem a terra ou financiando empresas que não respeitam os direitos humanos. Não podemos viver esta contradição.

Por isso, há muitos anos saiu este conceito de banco ético. Na Espanha, quando eu comecei a falar de banco ético há muito tempo, as pessoas riam. “Banco ético? Banco pode ser ético?”, as pessoas me perguntavam. Isso que você está me dizendo é triste, porque como o banco pode ser ético? Eu mudo esta pergunta: é possível que você saiba que o banco não é ético e você continua levando o seu dinheiro para lá?

De quem depende o que faz o banco se o cliente vai ao banco e pede apenas rentabilidade? O banco vai buscar rentabilidade. Mas se você diz: “Eu quero total transparência, eu quero saber quais são os seus critérios de investimento”. Eu trabalhei na Espanha por 30 anos no banco tradicional e eu saí para desenvolver o banco ético na Espanha, o banco europeu chamado Triodos Bank. Vocês podem buscar na internet.

Algumas pessoas que não estavam lá para fazer negócio, elas já viviam bem, consultores de empresa, economistas, advogados, eles pensavam: “O mundo começa a ir mal”. Nos anos 60, essas pessoas já sabiam que o mundo ia mal. O que podemos fazer para mudar o mundo? Há pessoas que queriam uma escola, um hospital, mas por que não um banco?

Um banco onde o poder do dinheiro seja utilizado para fazer coisas positivas. Parecia uma utopia. As pessoas riam. Falavam que éramos hippies. Porque o mercado é o mercado, a oferta, a demanda, todas essas coisas que sabemos da economia: oferta, demanda, mercado. Isso já está feito, está dado.

Mas teve um êxito enorme e se espalhou pela Espanha, Alemanha, França, Reino Unido. Quando eu comecei na Espanha, no final de 2004, 2005, as pessoas me diziam, meus amigos me diziam: “Joan, na Holanda e na Inglaterra e na Alemanha, sim, mas na Espanha, não. Você está louco? Na Espanha é impossível. Na Espanha tem muita corrupção, as pessoas não vão obrigar. Você não vai conseguir, você vai falir”. Os amigos sempre animam, não é?

“Não é possível, não é possível”, era só o que eu ouvia. Mas o sucesso que tivemos na Espanha foi tão grande que Harvard até hoje está estudando, porque eles não conseguem entender. Também eu nunca liguei muito para eles, porque eles fazem muitas barbaridades em Harvard.

Não é possível trabalhar com dinheiro e consciência. O que é um banco ético? Os critérios de investimento, no caso nosso, que estamos fazendo agora na América Latina, investimos em empresas e projetos que valorizem a cultura, o desenvolvimento social e o meio ambiente. Pode parecer pouco, mas esses são os três grandes setores, que subdividem em quase 150 setores. Há muita coisa para investir. E também são negócios, também ganhamos dinheiro.

Mas o propósito não é ganhar dinheiro. Não sei se vocês chamam de propósito ou missão. Ganhar dinheiro é o resultado. O propósito, a missão é fazer investimentos de impacto positivo, que melhorem a qualidade de vida das pessoas e também o ambiente. Mas só investimentos de impacto positivo, porque hoje todos os bancos publicam seus investimentos positivos. Tem bancos que são tão bons, que só 1% do seu investimento tem impacto positivo. Só 1%, até 1% tem impacto positivo. Mas você nunca mostra o impacto negativos dos 99% restantes.

As Nações Unidas falam em medidas de impacto positivo. Tudo bem. Mas por que não medimos o impacto negativo e fala “chega”? Porque tem muita hipocrisia, porque continuamos mentindo, com palavras bonitas, para dissimular. Vamos mudar o justo, mas eu não quero mudar meu nível de vida. Não queremos porque alguns de nós já estamos bem. Não queremos sair da situação de comodidade; queremos mudar um pouco e não o suficiente.

Por isso, quando esse banco teve o sucesso que teve na Europa e alguns amigos meus, da América, me chamaram – primeiro, do Chile, depois da Argentina, depois do Brasil, da Colômbia e de vários países – falando: “Joan, podemos criar um banco parecido? Não o mesmo, o Triodos é um banco europeu”. Eu falei: “Por que não fazemos algo parecido?”.

E sempre que me perguntam isso, eu respondo a mesma coisa: “Eu sou da velha escola. A velha escola de, quando palavra de honra era mais importante que um contrato assinado”. Eu dizia: “Se tem um grupo de pessoas que se compromete, eu me comprometo. Vamos fazer”.

Isso aconteceu, um grupo de pessoas em cada país. Estamos criando um banco ético, latino-americano. Fazemos uma coisa que é uma inovação: trabalhamos juntos. Já não falamos de países, das nações, das pátrias nem das bandeiras; falamos da terra e do ser humano. É claro: em cada país vamos atuar de uma forma diferente. Mas estamos colaborando, cooperando e, na parte tecnológica, pessoas de cada países, da comunicação, de todas as sete áreas que criamos, as pessoas trabalham juntas.

Ainda não existe, na América, uma União Latino-Americana. Ainda não existe, como na União Europeia. Mas por que não pensar que isso é possível no futuro? Porque estamos colaborando e vamos criar.

As pessoas falam: “Ah, não. Na América Latina é muito difícil, no Brasil é muito difícil”. É a mesma coisa que me diziam na Espanha: “Joan, na Argentina você não vai conseguir”. É a mesma coisa. Cada vez que as pessoas me dizem que não vou conseguir, eu vou ter mais força, porque não é verdade.

Quando algo tem sentido e você é capaz de imaginar e você é capaz de se comprometer, isso vai dar certo.

Há 100 anos as mulheres não podiam votar; os negros não podiam andar de ônibus nos Estados Unidos. O mundo pode mudar, o problema é que, se nos conformamos com o que há, e dizemos que é muito difícil, aí, sim, realmente não vai ser possível.

Então, quando as pessoas me perguntam quando vai ser possível no Brasil, eu dou o microfone para elas e respondo: “Vocês me digam, porque depende de vocês.”

Estamos criando um movimento chamado Rede Dinheiro e Consciência porque não queremos só criar um banco. Nós queremos dar centenas, milhares de palestras também a empresários para convencê-los a fazer uma avaliação do Sistema B e se transformar em Sistema B. Estamos indo às escolas e às universidades para falar com os jovens, mas também com os professores e os pais, para dizer que não podem seguir dando a mesma educação. Se você repetir a mesma educação você vai ter o mesmo resultado: a destruição. Os jovens têm essa consciência.

Escrevi um livro para jovens, A Economia Explicada aos Jovens. Eu acredito que vai ser traduzido para o português ano que vem, para que possa ser utilizado nos colégios. Isso entusiasma os jovens e desperta a consciência deles e eles têm que despertar a consciência dos seus pais. Portanto, é possível uma nova economia. É claro, isso já está feito, já fizemos isso na Espanha, na Europa. Hoje existe no mundo uma aliança global que se chama Global Alliance for Banking on Values. Não se chama banco ético porque algumas pessoas têm medo. Se você diz “banco ético”, parece que os outros bancos não são éticos. Então, dependendo do dia, respondo uma coisa ou respondo outra. Eu digo: “Não sei se são éticos ou não.” Os critérios de investimento estão definidos. Eles dizem que não vão investir em empresas que contaminam, que os direitos não são transparentes.

Sabem qual é a diferença de salário num banco, entre os funcionários e os diretores? Eu já vi bancos no Brasil em que a diferença salarial entre os funcionários e os diretores pode ser de 1.000% ou mais. Não fico preocupado com quanto ganha um diretor. Eu me pergunto se o funcionário pode viver de forma digna e lhes asseguro que muitos não podem, eles podem apenas sobreviver. Já encontrei bancos com empregados que ganham 300, 400, 500 dólares por mês. É muito difícil viver com isso, mas há diretores que ganham 50 mil, 100 mil, 200 mil, um milhão de dólares por mês e dormem tranquilos.

Isso não é necessário. É claro que se você não paga muito não entram pessoas com talento. Mentira! O talento não está vinculado ao dinheiro. Nos bancos em que trabalhamos na Europa nós recebíamos currículos com o salário das pessoas, de diretores de outros bancos. As pessoas mostravam o contracheque e falavam: “Eu posso perder 30 ou 40% do meu salário, mas quero trabalhar com um propósito. Quando meus filhos perguntarem ‘Papai, o que você faz da vida?’, eu quero dizer para eles que não tenho vergonha. Quero viver tranquilo e muita gente não dorme tranquila.”

Nós já fizemos isso. Há 54 bancos no mundo nessa Global Alliance, com quase 50 milhões de clientes. Nós não somos quatro loucos. O primeiro que começa é sempre louco, mas o segundo converte o louco em líder e os demais passam a segui-lo. Então, precisamos perder o medo. Precisamos botar no público o que todo mundo pensa no privado. Nada do que eu disse para vocês é louco – estou vendo a cara de vocês – porque é a única coisa que tem sentido. Crescer não tem sentido. Nós crescemos quando somos crianças. Chega uma idade em que paramos de crescer, senão, teríamos 500 metros. O que temos que fazer é amadurecer, a economia tem que amadurecer.

Já vou terminar.

A economia tem que amadurecer, não pode crescer mais. A Terra não tem mais recursos. Este ano, em julho, tínhamos consumido o que a Terra pode regenerar em um ano inteiro. Os combustíveis fósseis não podem continuar sendo usados. Em cidades como Rio e São Paulo há tanta contaminação que mal dá para viver. Aqui nem tanto, vocês têm o mar, mas há tanta contaminação! Por que vocês não começaram a pensar em carros elétricos ou híbridos, pelo menos no serviço público? “Ah, não, porque o negócio do petróleo...” Então, o negócio é mais importante do que a sensatez.

Começa uma nova época. O século XXI tem que ser o século da consciência, senão, vai ser da destruição total. A verdade é que não resta muito tempo. A fundação na qual trabalhamos se chama Fundação Dinheiro e Consciência. A sede agora está no Chile e vamos criar uma fundação para a América Latina inteira, não sei onde vai ser a sede.

Recebemos um informativo, no mês passado, muito alarmante: se hoje aplicarmos os acordos de Paris de 2017, da Cúpula Mundial de Mudança Climática, se todos os países os implementarem, isso não vai ser suficiente para mudar a situação. Já não é suficiente e muitos países nem assinaram o acordo. “Ah, não, tudo bem. A gente não firmou, mas não é um acordo vinculante, os negócios são mais importantes.”

É muito preocupante ver algumas pessoas que estão tomando decisões pelos outros. Eu não quero criticar ninguém. Quero pensar – eu gostaria de pensar assim, não sei disso –, gostaria de acreditar que as pessoas que dirigem os países estão fazendo o melhor possível, mas algumas parecem que têm alguma deficiência moral. Como é que elas podem tomar algumas decisões sabendo que estão destruindo as pessoas e o planeta? Como podemos colocar os objetivos econômicos antes dos outros objetivos e seguir votando nessas pessoas? Eu não entendo. Isso tem que mudar.

Não quero me estender muito, mas precisa ser criado um consumo responsável, que passa por energia renovável e alimentos orgânicos. O Brasil pode ser o produtor mundial de produtos orgânicos, como a Argentina. No mundo, nos Estados Unidos e na Europa existe muito mais demanda de produtos orgânicos do que se pode servir. A agricultura orgânica é regenerativa, consome muito menos água. O que estamos esperando?

Consumo de produtos de comércio justo. Não podemos comprar coisas porque elas são baratas simplesmente. É preciso incentivar, fomentar o Sistema B, empresas B, o fair play do comércio justo. É preciso apoiar o movimento do Banco Ético. No momento, temos um site, bancaetica.lat. Eu sei que a palavra “banca” aqui significa outra coisa, mas no resto do mundo banca, em espanhol, é o sistema bancário. Não vamos mudar, vamos deixar assim, bancaetica.lat – estamos pensando numa tradução para o português. Estamos publicando tudo que estamos fazendo, as próximas viagens, onde vamos dar palestras, workshops de três dias também com empresários e com políticos que se atrevam também a ir.

Vamos acolher esses políticos com muito amor. Vamos sacudi-los para ver se cai essa armadura oxidada que está em volta deles e se eles conseguem ver o coração que está dentro deles. Tenho certeza de que vão conseguir porque quando eu falo com os políticos em particular, eles me dizem outra coisa, mas em público têm medo de falar. Eles falam: “Ah, mas se eu digo o que eu penso...” Não tenha medo de falar isso. Se o seu partido político não deixa você falar, crie um partido político ético, vai haver gente que vai defendê-lo.

Apoie o Banco Ético, o Banco Ético que a gente vai fazer no Brasil. Agora a gente está fazendo um estudo de qual vai ser o plano de viabilidade, quais setores a gente vai financiar. A gente tem que começar com um fundo de investimento – não sei muito como, ainda – ou com um financiamento coletivo. Se você quiser escrever para a gente, para que a gente tenha o seu contato, para que a gente mantenha você informado, se você quere colaborar, há um site chamado, no Brasil, Dinheiro e Consciência. É em espanhol: dineroyconciencia.org. Escrevam, perguntem para a gente, colaborem. Descubram que juntos podemos mudar o mundo.

Falta só um tema. Falei que a gente pode usar o dinheiro para comprar, para poupar, investir e também para doar. Hoje o problema da economia mundial é que sobra dinheiro no mundo. Há tanto dinheiro, há tantos trilhões que ninguém sabe o que fazer com esse dinheiro. Só existe uma saída: doar. Doar não só para os pobres, doar para que muitos projetos possam sair do papel.

Nos países anglo-saxônicos – América, Estados Unidos, Inglaterra, Holanda – eles têm essa cultura de doação, mas nos países latinos não.

Quando eu começo, numa palestra, a falar sobre doação. as pessoas começam a sair. “Não, porque ficou tarde e tal”. Outro dia aconteceu isso comigo. Estava em Botucatu falando sobre doação: “Vocês têm que doar”. Três ou quatro saíram assustados, segurando a carteira como se falassem: “A mim você não vai pedir dinheiro”. Eles pensam sempre, quem tem que doar são os outros. Às vezes me perguntam: “Você conhece uma fundação que pode me dar dinheiro?” Ninguém me pergunta: “Você conhece uma fundação a quem eu possa dar dinheiro?” Isso significa que a gente não amadureceu espiritualmente. Somos como crianças e esperamos que os outros deem alguma coisa para a gente. E a doação é coisa mais humana que a gente pode fazer na vida, a coisa mais divina. Nesse sentido que eu disse antes, quando alguém doa é por liberdade, por amor, para que outra pessoa possa criar uma coisa no mundo.

Hoje, estamos aqui por que doaram tudo para nós: a vida, a educação, alimentação. Se a gente tivesse que pagar tudo que a gente está usando, a gente não poderia pagar. A gente vive da doação do passado e o mundo só vai se desenvolver se a gente for capaz de doar. Quanto? Depende da sua liberdade. Mas tem um exercício que eu recomendo de verdade.

Faça sua contabilidade pessoal, dos últimos três meses: entradas e saídas, o que entrou, o que saiu, até o último centavo e quando tiver tudo anotado, não vou pedir, junta isso e una o que você gastou com comida, com a casa, com educação, com transporte, e separe os itens inúteis. Você ficará surpreso. As pessoas não têm consciência do que elas gastam com coisas inúteis.

Eu fiz uma descoberta muito importante, eu vou patentear. Eu consegui fotografar o subconsciente humano. Vou publicar um livro com fotografias do subconsciente. O subconsciente pode ser fotografado, olhando o extrato do cartão de crédito. Aquela é uma fotografia do subconsciente. Com 42 anos de experiência eu já vi extratos de cartão de crédito, de débito, e aquilo está refletindo a vida subconsciente das pessoas. Ali se vê a verdade. Para onde destina o seu dinheiro. Mas o dinheiro é sua força, sua energia, sua vontade. Onde você põe sua vontade. E eu descubro no cartão de crédito, ou de débito, coisas que estamos comprando que não deveríamos comprar, que não precisamos, que não é necessário.

A maior parte de meus clientes, quando chega no final do mês, não sabe quanto dinheiro gastou e em que gastou.

Uma economia consciente significa fazer a contabilidade para ver o quanto vocês gastam em coisas que não precisam e se perguntem. Não tudo, mas a metade que vocês gastaram em álcool, em perfume, em cigarro, por que vocês não doam metade? É só uma pergunta. E vejam como é difícil. Doar é uma dificuldade interior. “Não, porque eu posso precisar amanhã”. “Queremos guardar dinheiro para o dia de amanhã”. E no dia de amanhã a gente vai morrer. Então, não é verdade que a gente precisa de dinheiro. Uma parte a gente precisa, a outra a gente pode doar. A doação mudaria o mundo.

Hoje, na Europa, as taxas de juros são negativas. Você precisa pagar para depositar dinheiro no Banco Central, de tanto dinheiro que tem. Ninguém sabe o que fazer com o dinheiro. Criam-se produtos financeiros e estruturais que não servem para nada, produtos de pura especulação.

O dinheiro vai dando volta, criando uma bolha até que a bolha estoura. Então, pode destinar esse dinheiro para investimento ou para a educação. Eu não sei o que vai acontecer com o mundo, o que vai acontecer com você, mas eu tenho a liberdade de fazer isso que estou dizendo e, como eu quero ser livre, as minhas decisões não dependem dos outros.

Quando descubro que algo tem sentido e é verdade eu posso fazer. E mesmo que eu soubesse que o mundo não vai mudar, eu continuaria fazendo o mesmo, porque a única coisa que tem sentido para mim, é a única coisa que permite que eu viva com dignidade.

Para terminar, proponho que vocês percam o medo. Quando uma pessoa perde o medo, ela vive como um verdadeiro ser humano. Quando a gente tem medo, a gente vive assustado: “Ah, o trabalho, o dinheiro, a segurança.” A segurança exterior nos torna inseguros. As pessoas têm que buscar a segurança dentro, e não fora, porque pode acontecer qualquer coisa. Existem momentos difíceis, mas eu sei que a vida não vai me trazer nada que eu não possa resolver. O que tenho a fazer é não me preocupar tanto comigo mesmo. Eu tenho que perguntar aos outros: “Do que vocês precisam? O que eu posso fazer por vocês?” Às vezes a pessoa tem um problema grave e para mim seria fácil ajudar. Mas as pessoas estão sempre fechadas em si mesmas – eu, eu, eu – e ninguém está feliz. Como diz uma canção, é melhor sofrer junto do que ser feliz sozinho. Pois é, vamos compartilhar não o sofrimento, e sim o amor, a compaixão pelos demais.

O que a gente pode fazer para mudar isso? Eu os incentivo a ter um consumo responsável; descubram as empresas, apoiem o desenvolvimento do Banco Ético no Brasil e na América Latina. Depende de vocês mudar isso.

Obrigado.

(Palmas)

O SR. PRESIDENTE (Chicão Bulhões) – Agradeço muito ao Joan por essa belíssima palestra e pela visão de mundo que traz para a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

Eu li uma frase no seu livro, logo no começo: “Só existe saúde se no espelho da alma se reflete toda a comunidade, e se nesta vive a força de cada alma individual.” É do Rudolf Steiner, me tocou bastante. Parabéns e muito obrigado.

Os convidados que quiserem fazer perguntas, por favor, o sinalizem para o Cerimonial e preencham as fichas para que a gente possa, depois, lê-las aqui. Agora, dando continuidade às falas, convido Leonardo Letelier, fundador da Sitawi, para falar sobre finanças sociais e investimentos de impacto.

O SR. LEONARDO LETELIER – Bom dia!

É uma dificuldade falar depois do Joan, mas faremos o nosso melhor aqui. Na verdade, para começar, eu queria fazer uma coisa diferente. Vocês já devem ter visto em algum lugar um adesivo de para-choque que diz: “Se você não está envergonhando os seus filhos, você não está se divertindo o suficiente.” Já viram isso? Eu queria retribuir o favor e apontar para a minha mãe, que está aqui, na plateia. Uma salva de palmas para ela. Minha mãe é desse tipo: se não está envergonhando os filhos, não está se divertindo, então, agora estamos quites.

Vamos lá. Acho que não vou usar muito da apresentação, tenho pouco tempo e queria fazer uma conexão maior com o que o Joan trouxe. Ele fala de humanidade, valores e dinheiro. Eu já tinha visto em algum lugar, também o ouvindo, que faz muito sentido essa divisão entre os três tipos de dinheiro, de doação, de consumo e de investimento.

Eu queria fazer uma coisa um pouco mais interativa aqui e isso vai exigir de vocês participação, então, preparem-se. Primeiro, em relação a doação, eu queria saber – levantem a mão – quem doa mais de 8% do que ganha no ano. Para vocês terem uma ideia, 8% é mais ou menos um salário mensal. Se você pegar tudo que você doa no ano para causas, para organizações sociais, não conta família, não conta aquele cunhado que sempre lhe pede dinheiro para a cerveja – isso não é doação. Quem doa mais de 8% do que ganha no ano levante a mão. Legal, são umas 10, 12 pessoas, uns 10%. Mas ainda há muita gente aqui com espaço para doar.

Como o Joan falou, a doação é uma energia vital para o desenvolvimento do mundo.

Vamos continuar: quem doa mais de 4% do que ganha no ano, ou seja, metade de um salário mensal? Então, se vocês fizeram a conta certa, quem levantou a mão quando tinha 8% deveria estar com a mão levantada no 4% também. Quem doa mais de 4%? Tem que ter mais gente que antes. Legal!

Quem doa mais de 2%? Um quarto do salário mensal? Então, beleza. Todo mundo aqui ou quase todo mundo participa. Eu vi gente que não levantou a mão. Nenhuma recriminação, mas temos algumas sugestões. Isso é importante, mas como o Joan falou, tem várias coisas que a gente quer que aconteçam no mundo que elas só vão acontecer com esse tipo de capital. É o capital mais nobre, como ele falou.

Quem não levantou a mão ou quem acha que pode doar mais, quem fizer o exercício que o Joan propôs e chegou à conclusão: “Poxa, eu posso doar um pouco mais?” E quiser procurar um projeto específico, pode ir no site da Benfeitoria, www.benfeitoria.com.br, É super legal, ótimos projetos, eu apoio vários projetos por lá. Quem quiser fazer uma outra conta, diferente, em relação à capacidade de doar, o Joan falou: olha, pega tudo o que você gastou nos últimos três meses, tudo o que você ganhou, receita, tudo o que você gastou, despesa. Pega aquilo que é supérfluo, pega metade disso, isso é o que você poderia doar.

Vou pedir para vocês fazerem outra conta: imaginem o ano passado, 2018. Já aconteceu. Você já tomou uma série de decisões, fez investimentos, compras, alocações de dinheiro importantes. Pensa do ano passado, se você tivesse – mais um exercício para levantar a mão aqui -, doado no ano passado 50 mil reais, depois a gente vai mudando o número, se você tivesse doado no ano passado 50 mil reais alguma daquelas decisões importantes que você tomou, no ano passado, teriam sido diferentes? “Ah, pôxa, eu não teria conseguido comprar um carro, ou dar entrada na casa ou aquela viagem que eu sempre quis.” Para quem não teria mudado nada: “Não, beleza, eu poderia ter feito tudo o que eu fiz ano passado e ainda ter doado 50 mil reais.” Comum, poucas pessoas.

Agora, se a gente mudar esse número para 15 mil, ou seja, se eu tivesse doado no ano passado, 15 mil, eu poderia ter feito ainda todas as coisas que eu fiz, todas as decisões importantes, não teria que ter vendido um filho, nada disso, e poderia ter seguido com a minha vida normalmente? Nas mãos: cinco mil? 1.500?

Mais ou menos assim: a primeira vez que você levantou a mão, então teve gente para onde foi 50, teve gente que foi cinco, 1.500, 15 etc. Em tese, é o seu orçamento possível de doação do ano passado. Vamos supor que você levantou a mão quando eu falei 15 mil. Aí, você pega e soma tudo o que você doou no ano passado. Deu cinco mil. Isso quer dizer que tem dez mil reais do ano passado, do orçamento de filantropia do ano passado, que você poderia ter doado e não doou. Então, esse pode ser seu orçamento de filantropia para este ano. É um jeito diferente de chegar a uma métrica possível de quanto você poderia, deveria, gostaria de doar.

E, aí, de novo, quer escolher um projeto? Vai à Benfeitoria. Não quer escolher um projeto? Quer doar para uma organização que apoia vários projetos de uma vez, Saúde, Educação, Meio Ambiente, criança, cachorro, papagaio, tudo, você pode doar para a Sitawi. Depois entrem no site.

Sobre consumo, a gente falou em doação. De consumo o Joan falou bastante. Quero dar outras dicas práticas aqui, pensar em quantidade, qualidade. Não vou fazer a pergunta de quem tem mais de 60 sapatos em casa, mais de 40 sapatos e não sei o quê - meio sacanagem -, mas pensem um pouco nisso. Itens parados são energia parada. Não fazem bem para ninguém. Tem o mantra da sustentabilidade: reduce, reuse, recycle. Reduza, reuse, recicle que vale para tudo isso.

Falar um pouco de investimento é o que a gente mais faz na Sitawi. O Joan falou do lado dos bancos.

Hoje tem mais ou menos 500 bilhões de investimento de impacto no mundo, que são investimentos que buscam retorno financeiro e impacto social. E no Brasil tem 343 milhões, é muito pouco, para o tamanho da economia do Brasil, é ridículo.

O que está acontecendo cada vez no mundo é que tem um movimento das pessoas buscarem alinhar, como o Joan falou, os seus valores com o seu dinheiro. Então, você tem um mundo de Craw, isso é 2017, certamente aumento para 2018, seja dinheiro de doação, que é o do meio, 5 bilhões, dinheiro de investimento na forma de equity, de capital, de participação acionária, são 2,5 bilhões, ou de empréstimo, são 25 bilhões de dólares, as pessoas querem cada vez mais colocar os seus valores junto com o seu dinheiro.

No Brasil, o que a gente está fazendo? A gente desenvolveu um plataforma de empréstimo coletivo justamente para isso onde a Sitawi, e com 12 anos de experiência no mercado, no ecossistema de impacto, a gente é o investidor de impacto mais ativo do Brasil, apesar de ser uma organização sem fins lucrativos, quando eu falei doe para a Sitawi não é brincadeira, precisa para fechar as contas, mas permite que a gente faça coisas como essa, que a gente avalie organizações em relação ao seu impacto social, a sua capacidade de devolver dinheiro, colocá-las no site, faz um investimento inicial e convida outras pessoas, pessoas físicas como eu, como vocês, a investir a partir de mil reais. Então, essas empresas, tem uma cooperativa de mulheres na Bahia que faz geleias e produtos com frutas nativas, tem uma organização de saúde, uma de educação, tem outra de orgânicos aqui do Rio, então, que a gente, coletivamente financie essas organizações que estão trazendo impacto social e ambiental alinhado com os nossos valores.

Então, você curte mais orgânicos ou do meio ambiente, tem os orgânicos, assim por diante, a gente levantou 1 milhão e meio de reais, fecho as cinco empresas, completou a captação das cinco empesas antes do prazo, então, conseguimos pensar em tudo isso e, a partir de agora, do mês que vem, as empresas já vão começar a pagar os juros, daqui a quatro meses juros mais principal, e daqui a 24 meses, tudo volta. Então, a gente já fez mais de 40, 45 investimentos como esses, então, a gente tem experiência para fazer tudo isso, para propor para a sociedade lugares disponíveis para alinhar os seus valores com o seu dinheiro.

E eu queria também trazer para vocês uma experiência que eu fiz recentemente que foi a seguinte, e de novo pedir a vocês pensarem nisso, não é de levantar a mão, então, vai ser mais um pouco mais difícil participar, mas é o seguinte: imagina que tem uma moeda, um real, um euro, não importa, a moeda está aqui, de um lado da moeda já está decidido o que tem, que tem o número 1 e um outro símbolo lá, mas o outro lado está disponível, o outro lado, cada um de vocês vai escolher o que está escrito, cada um de vocês vai escolher se tem imagem e/ou uma frase e qual é essa imagem e qual é essa frase.

E aqui tem alguns exemplos do que as pessoas responderam, então, imagina que tem essa moeda e do outro lado escrito: uso exclusivo visando promover os objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU; de um lado, um real, de outro escrito “Consciência leve”; de um lado, um dólar, de outro lado escrito “Necessidades não são desejos”; de um lado, um euro, do outro lado escrito “O fim da era do capital improdutivo”; de um lado, uma libra, de outro lado escrito “Retribua em dobro”; de um lado, o bitcoin, do outro lado escrito “Que o dinheiro sirva para diminuir as desigualdades .

Obrigado. (Palmas)

O SR. PRESIDENTE (Chicão Bulhões) – Obrigado, Leonardo. Só informando aos convidados que as perguntas que foram encaminhadas serão respondidas depois por e-mail, porque infelizmente teremos que acabar no horário aqui.

Então, eu chamo o nosso último palestrante, Abdul Nasser, superintendente do sistema OCB da Sescoop para falar sobre as cooperativas como ferramenta de democratização e humanização dos serviços financeiros. Temos ainda dez minutos.

O SR. ABDUL NASSER – Bom dia a todos. É bem difícil falar depois desse pessoal incrível. E a gente vai falar de uma coisa que é próxima, que também é a correção do social pelo econômico, mas com outros vieses, com outras luzes, com outras formas de ver.

Quem é que conhece cooperativismo? Levanta a mão, por favor. Quem já ouviu que cooperativismo só é bom quando dá certo? Ah? Eu ouvi isso várias vezes!

Eu estou no cooperativismo a minha vida inteira e desde os dezesseis anos, praticamente só por dois anos eu trabalhei fora do cooperativismo. Foi um período em que fiquei no Ministério da Fazenda, fora isso, toda a minha vida trabalhei com cooperativismo. Sempre, escuto as pessoas falando isso: cooperativismo é bom quando dá certo! E vou dizer para vocês o que é dar certo.

Vamos dar uma olhadinha no tamanho do cooperativismo no mundo, no geral, e aí a gente vai chegar no crédito.

Quem está passando? Então, vamos lá:

São 1,2 bilhões de pessoas sócias de cooperativa, no mundo todo - 1,2 bilhões são sócios -, são 280 milhões de empregos! Percebam: 1,2 bilhões de pessoas são donas de cooperativa, e contratam no regime CLT - normal, como a gente tem no Brasil – 280 milhões de pessoas, isso distribuído entre 3 milhões de cooperativas, de tudo que vocês imaginarem. Tudo! Tudo, tudo! Da flor ao trator, se fabrica tudo e, literalmente, tem desde cooperativa de catadores, que muitos conhecem, à cooperativa dos proprietários de aeronaves particular por tempo compartilhado. Isso não é na Europa, é aqui no Brasil! E a gente tem de tudo: é para quem tem muito dinheiro, para quem não tem nada na vida.

Se a gente junta aqui as 300 maiores cooperativas do mundo, se elas estivessem em um único país, esse país seria, só com elas, sem mais nenhuma outra unidade produtora, a 9ª economia mundial. E aí pergunto a vocês: deu certo? Dá certo? O que é dar certo?

Vamos para a próxima.

Aqui a gente tem uma distribuição do cooperativismo no geral, pelo mundo. Para nossa surpresa, é na Ásia que a gente tem a maior concentração, mas países conhecidos por serem mais voltados ao capitalismo, também têm uma concentração relevante de cooperativas e participação da sua população em cooperativas.

Para que saibam, cooperativismo é um sistema econômico; não é comunismo, não é socialismo, não é capitalismo e não estou falando de nenhum viés ideológico. Estou falando mesmo das metodologias econômicas de produção. Cooperativismo, dentro da teoria dos sistemas econômicos comparados, é um sistema econômico próprio, que funciona. Praticamente todos os países do mundo têm mais de um sistema econômico funcionando.

No Brasil, quando você olha na nossa Constituição, que trata da Ordem Econômica, você tem as regras gerais, que são atinentes ao dominante, que é o nosso capitalismo, mas tem lá o cooperativismo como secundário, que deve ser apoiado e estimulado.

Quando você olha o capítulo que trata, na Constituição da China - Ordem Econômica - você vai ter a Economia de Estado, o cooperativismo e a economia privada, que é feita no interesse do Estado. Essas são as frases que estão lá na Constituição. E você vai ter isso na Constituição de Portugal e em várias outras. Não vai tem nos países da Comom-Law, mas as regras estão lá também.

Aqui a gente tem números já do Brasil. São de 2010 e para cá a gente teve um crescimento muito relevante. Saímos de 9 milhões de pessoas para 14,5 milhões de pessoas, participando de cooperativas no Brasil. Olha que interessante: 33 a 36%. Já houve uma diminuição, são mulheres. Houve uma participação expressiva das mulheres nesse processo.

Aqui a gente tem uma distribuição dentro da relação de empregados de cooperativa. Também, mais uma vez, são 48% de mulheres. É uma participação bem relevante. Poderia ter sido 50 a 50, mas está muito próximo.

Chegamos ao cooperativismo de crédito ou de serviços financeiros, que é o que a gente quer efetivamente passar. Vejam, na lista dos países que possuem cooperativas de créditos, quantos milhões de associados a gente tem. Na China são 100 milhões, nos Estados Unidos 97. O Brasil fica em oitavo lugar, com sete milhões de pessoas vinculadas ao sistema financeiro cooperativo.

O que é uma cooperativa? O que há de diferente nisso? Numa cooperativa você é sócio, é dono, você decide junto. Sabe aquele negócio do propósito que o banco tem de repassar, de fazer um social? No cooperativismo é estrutural porque o correntista é o dono, todos têm um voto. O resultado que tem que ser entregue é o melhor serviço financeiro pelo menor custo, do modo mais eficiente, obviamente, mantendo competitividade. Não há como mudar isso. É do propósito, é da essência, é da estrutura, não é uma escolha, não é uma opção, não é porque eu tenho uma gestão que, naquele momento, quer fazer algo bom. É da estrutura.

Falando em termos de democratização, e aqui a gente tem alguns números, 44% das cooperativas estão na região metropolitana pelo Brasil e 56 estão no interior. Então, a gente está falando de levar para o interior esse movimento de gerar democratização, gerar acesso aos serviços financeiros. Quando a gente pega a distribuição brasileira, 33% de nossa população está em cidades de até 50 mil habitantes, e é onde estão os 56% das nossas cooperativas. Como vocês podem perceber, está bem distribuído, mas até cidades com cinco mil habitantes passam a ter cooperativas. Vocês não sabem a diferença que isso faz na economia daquela cidade, porque o dinheiro gira ali, entre aquela população. O dinheiro que ia ser sequestrado – vou usar esse termo – pelo capital e ser mandado para fora do Brasil fica ali, naquela região.

Aqui vemos algumas diferenças entre bancos e cooperativas, são sociedades de pessoas. Quando a gente fala de humanização, é isso, porque o que importa nas cooperativas são as pessoas, e não o capital, necessariamente. Cada uma tem um voto – é um princípio internacional –, os usuários são donos do negócio, todos participam de decisões políticas operacionais. A administração dos recursos financeiros dos associados é feita de forma mais vantajosas e os resultados retornam aos sócios, na proporção do que eles realizam, e aí há um compromisso educacional, social e econômico no desenvolvimento desse público. Aqui a gente representa bem a diferença, o resultado que se gera num banco e o que se gera numa cooperativa.

Aqui, para vocês perceberem alguns números comparativos, peguei apenas um dos setores, o Sicoob. Existem hoje dois grandes bancos cooperativos, que estão entre os dez maiores, o Sicoob e o Sicredi, mas existem mais sistemas cooperativos, mais grupos organizados, sistêmicos. Para vocês perceberem, se eu pegar só o crédito rotativo, são 386% de média no sistema financeiro regular, enquanto no cooperativismo estamos na faixa dos 149%, que ainda é muito alta, mas é menos da metade do que vemos no outro sistema.

Aqui está uma representação do sistema, Sicredi, Sicoob, Unicred, Cresol, Ailos e tantos outros. Aqui no Rio de Janeiro, por enquanto, são três sistemas, Sicoob, Sicredi e Unicred. Todos vocês podem fazer parte de um deles, é uma escolha. Eu hoje não movimento nada de relevante em banco.

Então, para vocês terem uma ideia, esses aqui são alguns números do Sicoob: 4.4 milhões de cooperados, 2.900 pontos de atendimento, 3 bilhões de sobras líquidas.

Prestem atenção: são R$ 3 bilhões que foram distribuídos para os donos, quem são os donos? Os correntistas. E esse foi o resultado positivo do Sicoob.

Então, são R$ 3 bilhões que retornaram para a economia na mão das pessoas que geraram esses 3 bilhões, e não na mão de investidores que muitas vezes estão fora do País e que estão, como o Joan disse, acumulando sem saber para quê, sem saber por quê, sem saber para onde vai com esse dinheiro, vai morrer e não vai gastar.

Então, é uma outra forma de fazer a economia girar e principalmente de humanizar, de distribuir, de levar para as pessoas, de levar para a ponta esse recurso.

Aqui a gente tem os resultados do Sicredi, que é um outro sistema.

E, aí, tem uma coisa que é o seguinte: perceba a diferença que faz você ter um sistema relevante, e a gente só está falando de 3%. Setenta por cento do mercado bancário hoje está na mão de quatro bancos e aqui a gente está falando de uma participação ínfima de 3% no sistema cooperativo, mas que todo mundo aqui já se beneficiou da existência desse esquema.

Vocês querem saber onde?

Até há pouco tempo, se um banco quebrasse, eram garantidos R$ 60 mil por CPF. Não importa quanto você tem lá, você vai ter R$ 60 mil de garantia.

As cooperativas foram lá, criaram o seu fundo garantidor e passaram a cobrir R$ 250 mil por CPF.

E agora elas foram lá e se organizaram, que se você tiver conta em mais de uma cooperativa, cobre até 1 milhão se forem cooperativas diferentes.

Então, percebam, o que aconteceu no mercado? Rapidamente se estruturou e hoje todo o mercado cobre 250 mil por CPF.

A concorrência teve que correr atrás, porque viu que as pessoas estavam se organizando e tinham algo que seria incomparável.

Então, existem formas diferentes de fazer as coisas, o cooperativismo é um dos caminhos, eu fico grato que esta Casa tenha aberto tanto espaço para a gente falar sobre cooperativismo, falar sobre as várias manifestações. Hoje, o cooperativismo de plataforma, que as nossas plataformas digitais caminhando para serem cooperativas ou cooperativas que possam entregar todo o resultado na mão do sócio e fazer negócios que seriam globais e ao mesmo tempo que sejam locais, porque garantem a fixação da renda nas pessoas, humanizam o processo. Como eu disse sempre, tornam o propósito estrutural.

Óbvio que a gente poderia falar de muito mais coisa, mas eu vou trazer um caso aqui bem interessante de mudança social provocada pelo cooperativismo.

Caso de Rio Pardo.

Quando o Sicoob abriu uma agência lá em Rio Pardo, não tinha energia elétrica na cidade.

Então, eles falaram: “Olha, para eu ir para a cidade, a gente vai lá, vai construir uma unidade lá. Não tinha banco, então, não tinha energia elétrica, não tinha nem banco. A gente vai construir uma unidade lá.

Negociou com a companhia de energia, levaram energia até a cidade, abriram a agência.

Tudo na cidade acontecia em outra cidade. O pessoal ganhava dinheiro, ia comprar em outra cidade, recebia em outra cidade, e a economia local não desenvolvia.

Quando o Sicoob chegou, levou luz elétrica.

A gente teve um aumento de 30% das propriedades, as pessoas vieram para a cidade, se mudaram para a cidade.

Houve investimentos no aumento do rebanho também que gerou um aumento de 39%, e um aumento de 45% nos CNPJs naquela cidadezinha do interior por conta dos serviços bancários numa cidade com seis mil habitantes, isso tudo em um ano.

Então, percebam o seguinte: a diferença que você tem entre ter sistema bancário dentro de uma cidade e não ter, e mais do que isso: ter um sistema bancário que tem compromisso em fazer com que a renda seja local, que ela fique ali, que tenha compromisso em devolver para aquela população todo o resultado, toda a riqueza produzida.

Bom, é isso.

A gente está à disposição para quaisquer outros esclarecimentos.

Obrigado.

Obrigado, Geiza.

Obrigado, Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Chicão Bulhões) – Obrigado Abdul.

Bom, pessoal, para encerrar, vou fazer os últimos agradecimentos a todos que vieram fazer as suas exposições.

Um agradecimento especial ao Joan Melé, e registrar a presença do meu amigo Waltinho Cavalcanti, líder do Convergência e do Conecta que tem trabalhado muito neste tema de ambiente mais sustentáveis no empreendedorismo e na política também.

Um abraço para todos os convergentes, e agradecer muito a presença de todos vocês que vieram prestigiar esse evento com um tema tão importante, e em especial, também, o Fórum de Desenvolvimento Econômico, na figura da incansável Geiza.

Muito obrigado.

Declaro encerrada a Sessão.

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